Nem

Pois então, não vou sentir nada hoje. Nem dor de cabeça, nem felicidade intensa. Nem culpa, nem medo. Não vou usar o meu ar irônico ou se quer meu sutiã vermelho. Não vou sentir o peso dos meus dois empregos, nem o caos dos meus dias de assalariada. Não vou me desesperar pelo não feito, nem vou me irritar com o mal feito. Não vou me revoltar com a televisão nem com qualquer mídia dessas baratas e insanas. Não vou derramar nenhuma lágrima pelos meus problemas. Nem vou me importar com minhas fraquezas ou desejos que me consomem. Não sentirei prazer nem amor, tristeza ou poder. Nem raiva do mundo. Nem loucura de viver. Nem, se quer, saudades de você.
Hoje meu espírito saiu pra passear, ficou aqui só minha carcaça de vinte e poucos anos esperando o futuro acontecer.